Uma questão de nacionalidade (?)

Estive em mais uma viagem fora de Portugal a trabalho. Como habitual, fui com outros jornalistas da área (que no nosso país são sempre a mesma meia dúzia de gatos pingados), sendo que hoje aproveito para vos falar de um deles. Uma pessoa com um carácter muito… Chamemos-lhe “especial” e a quem eu apelido de “Sr. Sabe Tudo”.

Para começar não é português “nascido e criado” embora escreva para um jornal nacional, que penso apenas os camionistas lêem, já que é de distribuição gratuita em locais ditos estratégicos.

Esta criatura estranha tem a peculiaridade de falar várias línguas e conseguir irritar-me sempre que o faz.

Filho de um italiano com uma suíça, tem hoje em dia também nacionalidade portuguesa por ter casado com uma tuga que já conheci e até hoje não percebi nem o que viu nele, nem como o atura.

Da mesma forma que fala (na teoria) correctamente inglês, francês, alemão, italiano e português, o “Sr. Sabe Tudo”, consegue dizer 5 asneiras por cada frase de 8 palavras, com a particularidade de o fazer seja em que língua for.

Quando o conheci num almoço e me surpreendeu com 30 mil palavrões, no final do mesmo veio desculpar-se por ser do Norte. Conheço diversas pessoas do Porto e nunca ouvi ninguém dizer tanta asneirada em tão pouco tempo. Como se não bastasse, descobri horas depois, que afinal ele apenas vive em Aveiro.

Mas a má educação da personagem não tem limites. Nos jantares destas apresentações de veículos no estrangeiro a que vou, frequentemente a mesa é composta por pessoas de várias nacionalidades. Neste último, ficámos juntamente com alguns alemães, que connosco falavam em inglês. Querendo mostrar que o seu nível linguístico é inversamente proporcional à sua inteligência, cada vez que alguém começava uma conversa em inglês, ele respondia em alemão. Tendo notado que 4 das 8 pessoas presentes não falavam essa língua, os nossos colegas passavam novamente para o inglês, e o “Sr. Sabe Tudo” retorquia em germânico. Assim decorreu o jantar, a dada altura já com a criatura num monólogo e os restantes em silêncio, certamente a pensar em coisas mais interessantes como a reprodução das formigas.

Eis que chegou um novo elemento à mesa. A senhora apresentou-se, perguntou de onde éramos e o sabichão, querendo mostrar que era o maior, resolve fazer uma breve descrição do seu percurso, mais uma vez para explicar o motivo de falar inglês, francês, alemão, italiano e português.

A jovem ouviu até ao fim, olhou para os restantes presentes, e depois para a criatura.

“Devia aprender Esperanto” – disse-lhe.

Ele soltou uma gargalhada, pensando que era um elogio e riu tão alto que perdeu o resto do comentário que a jovem nos dirigiu em voz baixa e em inglês, para que todos percebêssemos.

“Ao menos assim, misturava essas línguas todas e podia ser que alguém o entendesse!”

E desta forma foi como chegou. Com um sorriso e como se nada fosse com ela.

O egocentrismo do “Sr. Sabe Tudo” não lhe permite ver que quem está à sua volta não o acha um máximo como ele pensa, mas que quanto muito acha-o o expoente máximo dos otários!

Mas o trogloditismo está ao dispor de qualquer um, independentemente da nacionalidade e também “à mão” dos “nascidos e criados” em Portugal.

Há uns dias em conversa com um conhecido, comentei que estava a pensar aprender Árabe, “quem sabe se um dia não realizo o meu sonho e mandam-me para lá fazer reportagens sobre os conflitos? Se nunca mandarem, sempre aprendo mais uma língua”, disse.

É então, que o belo espécie de pseudo-homem me responde: “Árabe? Não sei porquê. Até parece que não sabes que nesses países as mulheres não podem falar”, e irrompe numa gargalhada como se tivesse dito a piada com mais graça do mundo.

Agora pergunto eu, será que por cada vez que pessoas assim “engargalham”, perdem um neurónio ou já nascem sem eles?

Augsburg (Alemanha)
24.07.08
11h06