Dentistas…

Apesar de ser um médico de quem falo com alguma frequência, enganam-se essas cabeças imaginativas que possam pensar que nutro alguma espécie de fetiche. Brocas para mim são para fumar, alicates servem para ajudar a comer marisco e babetes só se colocam nos filhos dos outros.

Em mais uma jornada ao consultório do meu esbelto dentista, desta vez foram os meus atributos que causaram furor. (Não re-comecem vá…!)

Estava eu a meio da minha consulta, deitada na cadeira com mil coisas na boca que me impedem que a interjeição “ai” seja se quer perceptível, quando entra outro dentista na sala.

“Então está é que é a famosa filha da Dona Mariana!” (devido a uma certa ordem do meu hipotálamo, é o momento em que começo a salivar mais, quase mesmo a espumar, que regra geral é o que me acontece quando oiço a expressão “filha de”. Felizmente com dois aspiradores na boca, os efeitos são menos visíveis a olho nu).

“'Tá boa? Que é que a menina tem afinal…? Xiiii… Como isto está… Que idade tem? Já sem um molar? Mais ainda tem um siso… Isto vai ter de sair. Oh Guilherme, quando é que vais acabar de tirar o juízo à menina?!”

E a coisa continuou, com introdução na conversa dos dois dentistas, ainda de observações sobre os meus caninos, quando eu própria estava prestes a transformar-me num e por sinal, um canino com sintomas de quem não foi vacinado contra a raiva!

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Mas qual será a parte do “eu não consigo fazer mais nada a não ser mexer os olhos que o sr. não entende"?

Já é suficientemente constrangedor estar toda entubada, ainda tem de vir aquele bastardo ver a minha ficha médica e fazer-me perguntas compulsivas a que não consigo responder visto que não é humanamente possível com tanto apetrecho na boca, e mesmo se fosse, após três anestesias que me fizeram esquecer que tinha cara, continuava a não ser!

Só não lhe faço uma espera, porque não lhe consegui fixar a cara, já que o vi sempre numa perspectiva de pernas para o ar, nos momentos em que tirou os olhos da minha ficha e se aproximou de mim a apontar para dentro da minha boca.

Como se não bastasse, quando finalmente terminou a conversa com o meu médico, ainda se despediu com um “A mãe é mais faladora!”

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