Primeiro um lar, depois o mundo

O motivo que me leva a escrever hoje, relegando para segundo plano tão cedo o meu último singelo capricho, deve-se a algo me tem vindo a apoquentar (se não fosse tão difícil explicar à minha avó o que é um “blog”, e este não tivesse conteúdos chocantes para a sua pessoa, chamava-a para ver como uso as palavras que me ensinou). À partes, à parte, caros bastardos, o que me apoquenta (duas vezes pah!) é uma criatura que por aí anda chamada “kefir”.

Apesar de alguns de vocês puderem saber do que se trata, para quem nunca ouviu falar (confesso que até há bem pouco tempo eu era um deles), um Kefir é nada mais do que uma criatura que em breve irá tomar o mundo, que é como quem diz, um fungo que as pessoas andam a trazer de livre e espontânea vontade para casa e de que cuidam.

Ao início não lhe dei o devido valor, mas agora tem vindo a preocupar-me.

Esta coisa, que insistem em tratar como um animal de estimação, tem vindo a proliferar-se, passando de lar para lar, crescendo e multiplicando-se. De aspecto semelhante ao de uma couve-flor, alimentam-no de leite, ele dá mais leite, e a seguir o seu dono come (ou bebe, ainda não percebi bem), o que daí vem.

Já por si a ideia é nojenta, e se tivermos em conta que o tratam quase como uma pessoa (com desejos, necessidades, alegrias e tristezas), diria que se torna praticamente num acto de canibalismo!

Há cerca de um mês, uma colega contou-me que lhe tinham dado um. “Uma coisa nojenta, que não sei o que fazer daquilo”, dizia ela. Ontem encontrei-a e perguntei-lhe se já se tinha livrado da “coisa” (palavras da própria), ao que me respondeu, para grande espanto meu: “Ai nem sabes! Está tão crescido! No outro dia esqueci-me de lhe meter leite e devias ver como estava com um ar tristonho! Fiquei cheia de remorsos! Agora já está mais gordinho e tenho bebido o leite dele todos os dias. Dizem que faz bem!”

“Dizem”???? Mas quem? Beber leite coalhado vindo de um fungo, só pode fazer bem à conta bancária de médicos especialistas em tratar gastroenterites. E já agora, “tristonho”? Como se vê se uma couve-flor está a rir ou deprimida?

“Já passei um pouco para a Mariana. Não queres também?”, continuou a dita. “Sabes que se tiveres de te ausentar, podes deixá-lo no frigorífico e ele sobrevive sem comer?”

Again…

Porque raio havia eu de querer tomar conta de um fungo?

E “sobrevive sem comer”? Só falta dizerem-me a seguir, que em caso de um desastre nuclear, sobrevivem as baratas e os kefir!

Hum… Agora que penso nisso…

Mas adiante. Vocês têm que ver, que não é normal beber qualquer liquido produzido por um ser vivo após lhe termos adicionado leite no dia anterior. E não venham com histórias de que é iogurte, porque iogurte é Danone e quando tiras a tampa, tem miminhos!

Quando a pessoa que me falou disto pela primeira vez foi uma rapariga portuguesa que fez Erasmus na Roménia, e a segunda, a minha professora de Espanhol, uma licenciada em Direito que resolveu vir para Portugal dar aulas a tugas com a mania que falam lindamente a língua de Cervantez, eu não fiz caso. Afinal de contas, que crédito se pode dar a alguém que vai para um país como a Roménia fazer Erasmus e a outra que trocou ser patroa em Espanha por assalariada em Portugal?

Fico contudo preocupada, quando num grupo de 8 pessoas, 3 estão a discutir formas de fazer crescer mais rápido um kefir, como o transportar na próxima viagem sem ele se estragar e a quem vão dar mais uns grãos a seguir! Isso sim rala-me – como queijo Parmesão, que o Rochefort também vem do bolor.

Começo a temer que os kefir tomem as casas portuguesas. Assim de fininho…. Com o seu leite, que se alimenta de leite, do qual supostamente nos alimentaremos nós, sem nos darmos conta que estamos a ficar possuídos por eles, viciados neles…

Espero estar enganada, mas até aposto que alguém que me lê, me vai dizer que “por acaso” até tem um. Não te iludas. Não é por acaso!! Eles sabem o que estão a fazer!

Bastardos, vocês tenham cuidado, eles andam aí! Depois não digam que eu não avisei.

________________________
Para os mais cépticos, façam uma pesquisa do Google, por “kefir”. Ia colocar alguns links, mas aparece tanta coisa, que é melhor verem por vocês!